Artista » Arautos do Gueto Área cultural: Música Comunidade: Aglomerado Morro das Pedras Telefone(s): (31) 8529-8104 Classificação: Bloco; percussão; Descrição:Mensageiros da FavelaCriada em 1996 por jovens do Morro das Pedras, a ONG Arautos do Gueto sobrevive, apesar das dificuldades de patrocínio. O projeto que já teve 120 participantes, hoje tem 60 e depois de um tempo parado, retoma as atividades em um novo espaço dentro da comunidade.Na época em que o Arautos do Gueto foi criado, a idéia inicial era trabalhar apenas a percussão, mas a preocupação com a violência crescente na comunidade fez os organizadores apostar em ações sociais, como oficinas de percussão e dança afro. José Antônio Inácio, coordenador da ONG, Hugo Heleno, integrante do Arautos, juntos com Bernardo e Valteci, que hoje não pertencem mais ao grupo tomaram a decisão. O primeiro nome escolhido foi Swing do Cais, que depois foi substituído pelo atual, por sugestão de Hugo Heleno.O Arautos do Gueto, no início foi dividido em subgrupos. o Arautos Bloco, grupo de percussão com adultos, jovens e crianças a partir de 12 anos. Núcleo de Dança, responsável por pesquisas e capacitação em danças afro-brasileiras. Arautos Banda, formado pelos atuais coordenadores da entidade e U-Gueto, nome artístico de Hugo Heleno. Antes o nome U-Gueto era dado a uma banda de crianças e adolescentes, criada por Hugo Heleno.Em 2005, o Arautos Banda estreou o espetáculo “O Morro Pede Paz” que se tornou também nome de evento realizado no Morro das Pedras, para agregar a comunidade através da música, fortalecer a cena cultural local e promover o intercâmbio entre artistas de Minas Gerais com a comunidade local, gerando renda para comerciantes locais e recursos para os trabalhos da ONG. “Idealizamos o Morro Pede Paz porque a violência armada é muito acirrada na comunidade, com muitas mortes de jovens e chegamos a um momento em que achávamos difícil reverter esse quadro, mas sentimos que precisávamos ajudar. Então criamos músicas para falar sobre essa vivência. Eu, U-Gueto e Dodô começamos a cantar o cotidiano do Morro das Pedras. Arautos significa mensageiros e gueto, consideramos como a favela. Mensageiros da Favela, para dar voz aos anseios da comunidade”, relata Inácio.O trabalho social realizado pela ONG é apontado por Inácio como uma via essencial de transformação social. “A gente tem duas vertentes de trabalho e uma delas é a artístico-cultural, que é a grande riqueza da periferia, local onde as pessoas não tem um espaço para ser desenvolver. Apostamos na arte e cultura como via de transformação social. Somos um exemplo disso. Sabemos que a grande preocupação do Brasil é a segurança pública, mas nesses dez anos de trabalho observamos que a arte, cultura e educação são fortes aliados no combate a violência, porque valoriza o ser humano. Sabemos que é mínimo o número de pessoas das vilas e favelas que conseguem dar continuidade a carreira escolar. Através de arte e cultura capacitamos as pessoas, que ficam motivadas na parte escolar, otimizando os resultados de aprendizado”, constata Inácio.Em 2006, foi firmada uma importante parceria na cena cultural de Belo Horizonte: Arautos do Gueto se uniu ao grupo de rap S.O.S Periferia, de Santa Luzia, Região Metropolitana, para e realização do espetáculo Matriarcado. No espetáculo cênico-musical, dirigido por Makely Ka, foram abordadas questões comuns aos dois grupos, relacionadas às vivências na periferia. Para o show eletroacústico, foram criadas novas composições e interpretadas outras já conhecidas do público como Lição de Vida (SOS Periferia), que fala sobre a importância da figura feminina representada pelas mães na periferia, tema diretamente ligado ao termo “Matriarcado”, que nomeou o espetáculo. “Na verdade essa história do show Matriarcado foi uma sugestão do Vítor (produtor do Arautos do Gueto), até mesmo pra gente descobrir novas formas de parceria musical. Queríamos fazer uma experimentação entre Arautos, que é percussivo e o rap, representado por uma bagagem enorme de riqueza cultural do SOS, para ver também grupos musicalmente diferentes com metodologia de trabalho e ideologias parecidas. Os dois grupos começaram do nada, buscando capacitação em arte e cultura e temos uma historia muito semelhante”, relata Inácio, que pretende dar um segundo passo elaborando mais ações conjuntas com o SOS, tanto na área cultural quanto social.A busca pela capacitação em arte e cultura citada por Inácio mostra como resultados positivos aprovações em projetos das leis de incentivo à cultura estadual e municipal. O Arautos do Gueto já teve quatro projetos aprovados ao longo de dez anos: “A gente teve aprovação de quatro projetos embora não tenhamos conseguido a captação de recursos em um deles. A primeira aprovação aconteceu em 1999, com um projeto de expansão do grupo e a segunda aprovação foi em 2001, para um projeto de continuidade, ambos pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Em 2005, aprovamos o projeto das oficinas culturais e agora em 2006 tivemos outra aprovação, para um projeto que inclui oficinas, mas também inclusão digital e melhorias para a biblioteca do grupo, sendo esses dois através da Lei Estadual de Incentivo à cultura”, conta Inácio. Em 2005 o Arautos teve o projeto patrocinado pela empresa Telemig, o que tornou possível a realização das oficinas culturais.A avaliação de José Inácio para os dez anos de atuação do Arautos do Gueto na comunidade do Morro das Pedras, é positiva e baseada na realidade vivenciada junto a crianças, adolescentes e adultos. “Como coordenador nesses dez anos vi que o grupo deu um salto muito grande. Não temos como lançar os dados, mas para quem conhece o Morro das Pedras sabe. Há muito tempo atrás era alta a violência armada e entorpecente, os jovens tinham poucas opções para se desenvolver na comunidade, não só eles, mas também crianças e adultos, que tinham um tempo ocioso. Por 90% dos jovens que já passaram pelo Arautos, posso afirmar que os resultados são positivos, porque a maioria está num emprego formal, estudando, atuando na área artística, inseridos em outros projetos. O grupo com maior tempo de existência somos nós e por isso é uma referencia muito grande para a comunidade e para Belo Horizonte”.Vencendo desafiosA rotina de trabalho do grupo cultural já foi intensa, integrada por oficinas de percussão; ensaios do Arautos Bloco e núcleo de dança afro mirim. Sempre com atividades diárias ou semanais para pessoas de todas as idades de dentro e fora do aglomerado. Depois de um tempo enfrentando dificuldades de patrocínio, o Arautos retoma o fôlego com oficinas de iniciação em percussão na Escola Municipal Hugo Werneck, na divisa entre a Silva Lobo e o aglomerado. Participam 60 jovens da comunidade, de sete a 15 anos. O projeto funciona graças a uma parceria com o Instituto Cidadania Unimed-BH que garante o pagamento dos oficineiros. O Arautos também tem novo espaço, na rua Oscar Trompowski, dentro do aglomerado. O aluguel é pago com a ajuda financeira de uma professora de canto de Belo Horizonte e uma empresária de Viçosa. O Arautos também iniciou uma nova parceria com a Escola de Samba Cidade Jardim. O grupo vai dar oficinas de percussão no espaço da escola no Conjunto Santa Maria e ensaiar os integrantes para o carnaval 2010.José Antônio Inácio