Morro do Querosene (Governador Valadares) População: 1

De acordo com informantes, no início da ocupação do Morro do Querosene pelos pioneiros, a região era uma área de pasto com péssima acessibilidade. O território estava inserido no corredor de passagem ligado às antigas fazendas da região, com destaque para a fazenda dos Carapinas.

De acordo com informantes, no início da ocupação do Morro do Querosene pelos pioneiros, a região era uma área de pasto com péssima acessibilidade. O território estava inserido no corredor de passagem ligado às antigas fazendas da região, com destaque para a fazenda dos Carapinas. Durante as ocupações, esta região pastoril se tornava um lamaçal só.

Na década de cinqüenta, os lotes foram concedidos pela prefeitura aos populares vindos de outros bairros da cidade, como por exemplo, do bairro de Lourdes, do Morro do Carapina e de pequenos municípios e distritos da região do Rio Doce, como Mantena e outros mais.

Muitas pessoas ocuparam lotes e tiveram a legalização e regulamentação de seu imóvel depois de muitos anos. Muitos imóveis eram vendidos e repassados para outros moradores. Lotes davam origem a mais de um domicílio, proliferando o número moradias e famílias. Aparentemente não ocorreram conflitos significativos neste período, relacionados à posse de terras e defesa de propriedades.

O nome do bairro está relacionado a uma prática muito comum dos primeiros moradores: uma vez que a energia elétrica tardou a chegar ao bairro, os casebres eram iluminados precariamente por lamparinas de querosene e lampiões. À noite, as pessoas faziam fogueiras do lado de fora das casas para gerar um clarão e iluminar os seus terreiros, as trilhas e picadas onde se locomoviam.

As pessoas carregavam os materiais nas costas, na cabeça e no lombo de animais, subindo os matos, nas encostas. Buscavam madeira no bairro Esplanada. As casas eram construídas de barro, bosta de boi, bambu e madeirite, algumas delas cobertas de capim. O chão era de barreado. O mutirão, por sua vez, era um dos principais recursos utilizados para levantar os casebres que surgiam. Gradativamente, as casas de alvenaria foram substituindo e se somando às antigas casas barreadas, o que deu maior segurança e salubridade para a população.

Pessoas que em muitos casos nunca tinha trabalhado com construção civil levantavam suas casas com a ajuda dos parentes e amigos. Interessante que algumas destas pessoas depois se voltaram para esta profissão, se tornando ótimos pedreiros e mestres de obras.

Apesar de hoje serem muito boas, durante muitos anos não existiram escadarias no bairro, indica um informante. As pessoas se machucavam, cortavam os pés. Aqueles que trabalhavam em outros bairros chegavam a seus serviços com os pés sujos de lama e passavam por situações embaraçosas.

Teve época que predominavam os becos desbarrancados, os trilhos em meio ao matagal. Além disso, um dos maiores problemas era a falta de água potável. Os moradores tinham que buscá-la na beira da linha, no bairro Santa Helena.

As donas lavavam roupa no Rio Doce, um local importante de socialização destas mulheres e seus filhos. Espaço de conversas, favores, cantorias, troca de receitas e risadas. Contam os moradores antigos que na época as águas do Rio Doce eram limpas e até mesmo potáveis. Na região também tinham córregos que as pessoas se banhavam, hoje são cursos de esgoto, adverte um dos informantes. Os moradores demonstram muita saudade deste tempo.

A água começou a se espalhar no bairro somente nos meados da década de oitenta. Vinha do Morro do Carapina e era distribuída em chafarizes, nas chamadas minas, tão disputadas pelos moradores. Na época o pessoal fez um mutirão, o prefeito cedeu o material utilizado nas obras e as ferramentas. Depois fizeram uma caixa d’água onde atualmente é a creche, o que melhorou significativamente a oferta deste serviço tão vital para a comunidade.

A energia elétrica foi implantada um pouco antes da água. A construção das vias foi feita aos poucos, o calçamento na maioria dos casos tardava a ocorrer. A Cemig puxava os postes em correntes para subirem o morro. De acordo com uma antiga moradora, a prefeitura ajudou na infraestrutura, ao ceder padrões de energia para as pessoas que não podiam comprar.

Na época tinham muitas carências. As pessoas se aproveitavam da configuração meio urbana e meio rural e vendiam esterco na rua. Tinha muito gado na região. As pessoas buscavam lenha em muares e cavalos para seus fogões a lenha. Os primeiros moradores trabalhavam como sapateiros, engraxates, domésticas, jardineiros, ambulantes e mais uma série de profissões, sendo a maioria informal. Muitos moradores antigos se mudaram para o bairro Monte Carmelo, a partir de uma iniciativa da prefeitura, que estava expandindo a área de moradias.

Segundo um morador antigo, o bairro tradicionalmente nunca teve lideranças formais fortes que o representasse. Além disso, relembra que a violência esteve muito intensa em uma época e depois melhorou. Atualmente é mais tranqüilo, a maioria das pessoas são de paz, são solidárias.

A quadra é um local de convívio social importante, sobretudo para os jovens. Lá ocorrem práticas esportivas e festas. A igreja católica faz barraquinhas, no dia de comemoração aos santos. Antigamente tinham as tradicionais quadrilhas, que alegravam a comunidade. Infelizmente o bairro, que é situado em uma área de grande declive, ainda conserva problemas de infraestrutura e salubridade.

Atualmente o bairro oferece serviços como creche, linha de ônibus e apresenta uma boa pavimentação, sobretudo se relacionada aos tempos das primeiras ocupações. Por fim, podemos dizer que as memórias compartilhadas pelos moradores, sobretudo dos mais antigos, demonstram uma história popular de inúmeras conquistas. Apesar destas melhorias, muito há de ser feito para essa comunidade, que é tão importante para a cidade de Governador Valadares.

Morro do Querosene (Governador Valadares)
Morro do Querosene (Governador Valadares)
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