São Tarcísio (Governador Valadares) População: 1

O bairro de São Tarcisio é um dos mais antigos da cidade de Governador Valadares, para alguns o primeiro. É um bairro pequeno, tem pouco mais de uma centena de imóveis, mas são muitas as histórias que marcam o lugar.

O bairro de São Tarcisio é um dos mais antigos da cidade de Governador Valadares, para alguns o primeiro. É um bairro pequeno, tem pouco mais de uma centena de imóveis, mas são muitas as histórias que marcam o lugar.

De acordo com moradores antigos do bairro, o São Tarcisio surgiu em uma região ribeirinha, onde se encontrava um pasto e uma pedreira. Muitas casas da Rua Prudente de Moraes – a rua mais importante da época – tinham quintais que se estendiam até a margem do Rio Doce. Alguns moradores disseram que a parte do bairro denominada “Beira Rio” era área verde e foi ocupada um pouco mais tarde. Outros moradores contam que a região fazia parte da fazenda do Quintiliano de Souza Costa, primeiro Juiz de Paz do município, sendo posteriormente loteada.

Grande parte dos primeiros moradores ocupou clandestinamente os lotes. Outros tantos compraram de terceiros, venderam e revenderam. Atualmente muitas casas tiveram seus documentos regularizados, outras estão em processo de legalização.

Dentre os primeiros moradores do bairro, muitos já falecidos, podemos citar as donas Maria Rosa, Maria Francisca e Lia e os senhores Geraldo Vieira, Cabral, Tião, Orlandino, Zezinho Paranhos, José Maria, Elieser Gomes, Walter Pereira e Antônio Buenos Aires. Muitos moradores vieram de outras cidades da região do Rio Doce, como Tarumirim, e de outras regiões de Minas Gerais, como Raul Soares, município pertencente à Zona da Mata mineira.

As primeiras casas levantadas eram de madeira. Muitos destes casebres foram construídos de tábuas compradas ou ganhadas em serrarias próximas, por exemplo, a do José Nascimento Ferradeiro, conhecido com Zé Português, que ficava do lado do bairro.

Inicialmente a falta de água encanada não era um problema tão grave, uma vez que a poluição ainda não ameaçava o rio. Os moradores utilizavam a água do Rio Doce para lavar roupas e vasilhas, para se banharem e até mesmo para beber. Para muitas senhoras a água do rio era fonte de renda. Existiam muitas moradoras do bairro que lavavam roupa para fora utilizando as águas do rio. Houve pessoas que até vendiam água do rio no alto do Carapina.

Com o passar do tempo os moradores começaram a buscar novas formas para se obter água. Alguns, por conta própria, compraram canos e puxaram a água da Rua Prudente de Morais. Apesar de ser um serviço para poucos, pois os moradores deveriam arcar com seus gastos, o SAAE ligou a água encanada no bairro na década de 1950. Muitos outros moradores, no entanto, somente tiveram acesso ao serviço a partir da década de setenta.

No início, a iluminação do bairro era à base de querosene. Os antigos contam que utilizavam ferro a brasa, uma vez que quase todos tinham fogão à lenha. Alguns mais inovadores utilizavam bateria de caminhão para ter uma alternativa energética em casa. A energia elétrica foi colocada na década de setenta, após um abaixo assinado ter sido enviado ao governador do Estado, por intermédio de um político de Governador Valadares. Poucos dias depois do pedido à CEMIG, começaram a serem implantados os postes, meses depois a energia chegou.

A falta de calçamento era um dos problemas mais sérios do bairro. Por sinal, esta dificuldade demorou um pouco para ser sanada. No início tinham mais trilhas do que ruas. Com o tempo, foram surgindo as primeiras vias. Merece destaque a antiga Travessa 13 de Maio, hoje Geraldo Vieira, em homenagem ao primeiro educador do bairro. A Rua Cláudio Manoel, no “beira rio” – também importante para o processo de ocupação do bairro – ficou muito tempo sem calçamento. Vale destacar que o calçamento das primeiras ruas era construído com espécies de tijolinhos.

Um serviço precário do bairro – que já melhorou em grande medida, mas que precisa ser resolvido por completo, na opinião dos moradores – é o de limpeza. Foi somente nos últimos anos que o recolhimento de lixo chegou ao “beira rio”.

As melhorias do bairro se deram através da luta dos moradores, das articulações das lideranças e do apoio de políticos. Em 2006, através de um projeto da SEPLAN, iniciaram reformas e pinturas nas casas, em uma tentativa de quebrar os estigmas e dar um ar mais alegre, semelhante a do pelourinho em Salvador.

De acordo com alguns relatos, a associação de moradores do bairro surgiu no início da década de 1990. Os principais líderes do bairro foram Joaquim Honorato, Eliseu, Idelfonso, Joel, Elisangela, Sérgio e Anselmo. O papel destes líderes para as conquistas do bairro foi essencial, destacando-se a construção do aterro e da murada, obras que contaram com o trabalho coletivo dos moradores.

A escola antiga foi implantada por religiosos católicos, através de doações. A instituição era coordenada pelas damas de caridade, especialmente pela Irmã Luiza. Tempos depois a escola foi transferida. A escola atual do bairro, Valdete Nominato, foi implantada na virada da década de oitenta para noventa. Ao longo de sua existência ocorreram reformas na escola, destacando a construção do muro e do pátio.

Os episódios mais trágicos da história local estão associados a várias enchentes que o bairro presenciou. A enchente de 1997 levou muitas casas embora. Segundo alguns moradores, foi a pior. As águas chegaram devagar, mas causaram muito estrago. A enchente de 1979 também deixou tristes marcas na história do bairro, relembram os moradores antigos. Muitos ficaram desabrigados e tiveram que se mudar da comunidade.

Muitos moradores se dedicavam à pesca no rio Doce, alguns como profissionais. Pescavam com botes e redes e retiravam do rio inúmeros peixes, como corvina, piau, grumatã, traíra, cascudo e outros. Daí a tradicional moqueca de cascudo feita no bairro por algumas pessoas.

Na antiga travessa 13 de Maio, em tempos bem remotos, existia um antigo cemitério. Quando iniciaram as obras de melhoria na travessa, os moradores entraram em contato com as ossadas que lá estavam depositadas. Este fato mexeu bastante com o imaginário de alguns moradores. Contam que uma moradora viu um homem muito misterioso na travessa, ele tinha focinho de porco e pé de boi. A surpresa foi tão medonha que a moradora chegou desesperada na casa dos vizinhos.

Os moradores do “beira rio” também contam um “causo” muito curioso. Dizem que houve uma época em que pedras misteriosas caiam inesperadamente na rua. Com o tempo virou rotina, às 18 horas começava a saraivada e terminava de madrugada. As pedras eram grandes e não se tinha nenhuma suspeita de quem as atirava. Chamaram a polícia, o padre e o pastor, mas nada resolveu. Certo dia um menino misterioso foi visto descendo uma rua do bairro sozinho. Contam que em um piscar de olhos a criança desapareceu e depois disso nunca mais as pedras apareceram.

Alguns serviços públicos nunca existiram no bairro, talvez pela proximidade em relação ao centro da cidade. Tanto a policlínica quanto a creche utilizada pelos moradores não se situam no São Tarcisio. Antigamente o Dr. Raimundo Teixeira Resende, médico e político da cidade, atendia as pessoas do bairro, até mesmo gratuitamente, em seu consultório, na Rua Barão do Rio Branco. Em casos de urgência ele ia pessoalmente ao bairro atender os enfermos.

Dentre os comerciantes mais antigos do local destacam-se os senhores Joaquim Honorato, Toledo e Antônio Buenos Aires. Dentre as primeiras profissões do bairro estão a de pescador, lavadeira e pedreiro.

As novenas de natal são tradicionais. Um das principais organizadoras é a dona Lia, como dito, uma das moradoras mais antigas do bairro. A maioria dos católicos vai à missa na Igreja Matriz, que fica bem próxima. No São Tarcísio atualmente tem uma capela católica, que faz parte da congregação “O caminho”, que chegou ao bairro em 2009. Esta congregação presta assistência a dependentes químicos. Existem inúmeras igrejas evangélicas próximas, merecendo destaque a antiga Igreja Presbiteriana.

No bairro, nas margens do rio, existe uma pista de pouso de asa delta e paraglider. Levando em consideração a fama da rampa de salto do Ibituruna para os amantes deste esporte, a pista de pouso do São Tarcísio demonstra a sua importância. No mesmo local da pista se encontra um campo de futebol, onde animais pastam tranquilamente. Neste lugar também ocorre a Feira da Paz, um importante espaço de socialização do bairro. Antigamente aconteciam quadrilhas no São Tarcísio. As mais famosas eram as organizadas pela Dona Maria das Graças, no “beira rio”, e as organizadas pelo Sr. Antônio Pereira, na antiga travessa 13 de Maio.

Fica então a curiosidade por conhecermos um pouco mais sobre a história do bairro de São Tarcísio, um dos mais tradicionais da cidade. Para quem se interessar mais, é sugerida uma boa conversa com os moradores antigos, os verdadeiros guardiões da memória destes tempos que não voltam mais.

São Tarcísio (Governador Valadares)
São Tarcísio (Governador Valadares)
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