A alegria que pode durar o ano inteiro.

Hip-hop, capoeira, percussão, dança de rua e dança afro invadiram a Via 240 na abertura do Carnaval 2006 em Belo Horizonte. Participantes e prefeitura desejam a ampliação da festa na capital mineira.

O Carnaval já passou, a campeã das escolas de samba de Belo Horizonte em 2006 é a Canto da Alvorada, mas a alegria da abertura da festa vai durar o ano inteiro. O Bloco Aruê das Gerais, um dos cadastrados pelo Guia Cultural das Vilas e Favelas de Belo Horizonte, cuidou de dar início à festividade, e, mesmo sem concorrer a título ou premiações, comemorou e comemora os minutos de alegria vividos na Via 240, região norte de BH.
“Ê, mais que beleza, estou na festa no salão da baronesa. Ê mais que beleza, estou na festa no salão da baronesa…Sou do quilombo, sou do quilombo…”. Embalado por este samba enredo, com um toque de música baiana, entrou na via 240 o Bloco Aruê das Gerais, composto por grupo de mesmo nome e seis outros coletivos artísticos da periferia de BH. Meninos do Morro, da Pedreira Prado Lopes, Juventude Hip-Hop, Crime Verbal, Calanga e Arte Nossa, do Taquaril, junto com Aruê das Gerais e Aruanda, do bairro São Geraldo, abriram o carnaval da capital mineira, mostrando possibilidades de intercâmbio entre as vertentes da arte na avenida.
Em homenagem a Xica da Silva e a cidade mineira de Diamantina, o bloco ressaltou na letra do samba e nas vestimentas dos foliões que a cultura negra dos quilombos permanece viva no século XXI. “Os meninos do Taquaril trazem para a avenida o Quilombo Urbano, o Quilombo do Morro, onde se preserva a cultura afro-descendente”, exemplifica Anderson Viera, coordenador do grupo de dança afro Calanga, do Taquaril.
A sintonia entre os grupos do bloco de abertura saltou aos olhos e aos ouvidos. “Estou na festa no salão da baronesa” além de rememorar a entrada da escrava Xica da Silva nos salões da “alta sociedade da época” pareceu remeter também a entrada e o reconhecimento da periferia em um novo lugar no imaginário social.

Intercâmbio artístico e cultural
De acordo com o diretor de eventos da Belotur, Tadeu Martins, o órgão da prefeitura faz questão de, não só no carnaval, mas nas festas junina e natalina, ter a participação da periferia, como forma de inclusão social. Para ele, entretanto, o mais importante desses eventos é o caráter de integração cultural. “Não é simplesmente pegar um grupo e colocar. É, realmente, chamar quem tem o que mostrar e promover o processo de integração. Isso vem acontecendo e vai acontecer sempre. É uma determinação dessa administração. O carnaval de Belo Horizonte vai crescer com isso, com essa integração”, afirma Martins.
Para Rosângela Goulart, coordenadora geral do Aruê das Gerais, uma das vantagens de participar do carnaval é também poder reunir todo o grupo, que tem cerca de 80 pessoas. “Às vezes a gente vai se apresentar e não dá para levar todo mundo. Como o grupo é grande, a gente tem que ficar revezando”, diz.
O líder do grupo Calanga acredita que os artistas da periferia mostram uma situação que vai além da realidade das vilas e favelas, chegando a ser uma projeção do que desejam. “O grupo Juventude hip-hop mostra que é da favela, mas que a favela não está dentro deles. Eles mostram que o Taquaril é muita cultura e informação, na verdade, eles estão na avenida representando isso, mas não é só isso”, diz Anderson Vieira, se referindo ao esforço dos jovens em mostrar o lado positivo da periferia. “Os meninos estão mostrando que apesar da violência, dos problemas sociais, eles podem mostrar uma outra realidade para a sociedade, que nós fazemos parte da sociedade”.
Jailson Amâncio Amorim, o Fazenda, da capoeira Arte Nossa, disse que o a articulação dos grupos para o carnaval é parte de um momento ápice, mas o movimento cultural em BH, pelo tamanho e engajamento, é auto-articulador.

Prefeitura vê no carnaval possibilidade de geração de renda constante
O vice-prefeito de Belo Horizonte, então prefeito em exercício, Ronaldo Vasconcellos, disse que existe um projeto de engrandecer o carnaval da cidade. O objetivo é profissionalizar a festividade na capital mineira. “Eu costumo dizer para as escolas de samba, os blocos caricatos, todas as manifestações culturais, que quando terminar o carnaval 2006 já comecem a trabalhar de maneira adequada pensando o carnaval de 2007”.
Ronaldo Vasconcellos ressaltou que a administração municipal está aberta para trabalhar com os grupos que queiram fazer da festa uma atividade de geração de renda. “Não só através das nove regionais, mas através da Secretaria de Política Social e da própria Belotur nós estamos abertos a qualquer tipo de parceria que seja boa para Belo Horizonte, para gerar emprego, gerar renda e fazer alegria para a população”.