O rap invade a cena cultural de Belo Horizonte

O rap ocupa um espaço de apresentações cada vez maior dentro e fora da periferia de Belo Horizonte. Participações na abertura de grandes eventos como o FAN – Festival de Arte Negra, O FIT – Festival Internacional de Teatro e os Projetos Sons & Tons e Conexão Telemig Celular garantem ao rap um novo lugar na cena cultural da cidade. Espaços tradicionais de BH como Teatro Francisco Nunes e o Palácio das Artes tem, freqüentemente, sido palco para os shows que antes eram as vedetes apenas na periferia e nas casas de shows alternativas.

“Ainda há muito espaço a ser conquistado, o rap tem crescido em Belo horizonte nos últimos anos acompanhando um fenômeno mundial, assim, a sociedade acaba reconhecendo a importância dessa forma de expressão artística. Este reconhecimento, aliado a um forte conteúdo de crítica social nas letras contribui para a abertura de espaços”, avalia Dj Francis, do grupo NUC – Negros da Unidade Consciente, do Alto Vera Cruz, em atividade desde 1997.

O NUC já participou de eventos como o FIT, o FAN, o Fórum Cultural Mundial, passando por casas de shows, escolas e comunidades, e pelo inovador Música Independente, no Palácio das Artes, onde realizaram show em 2005. No Conexão Telemig Celular, o NUC foi o primeiro grupo de rap a se apresentar, abrindo as portas para vários outros grupos.

Através do trabalho de grupos como o NUC, Belo Horizonte tem conquistado representatividade nacional e internacional no rap. O grupo já fez shows na Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Brasília, além de diversas cidades do interior de Minas. A experiência internacional ocorreu em 2004 quando o grupo participou do evento Hip Hop Havana, em Cuba. Em 2005, marcaram presença no XVI Festival da Juventude Estudante, em Caracas, na Venezuela. Nos shows, o NUC revela através das letras, musicalidade e performances, que vem construindo uma identidade própria para o rap produzido em Belo Horizonte e no Brasil. A discussão proposta pelo grupo abrange temas sociais vividos nas grandes metrópoles, combatendo o preconceito racial, defendendo a cidadania e os direitos humanos.

Para Russo, do APR – Artilharia Pesada da Rima, grupo com sete anos de estrada, a divulgação do rap feito em Belo Horizonte cresce ao longo dos anos, mas ainda é insuficiente. “Ta rolando evento direto para o APR, em associação comunitária, no FAN, em todo lugar, mas pra geral ainda está fraco. As casas de show direcionadas ao rap cederam maior espaço para o funk, por causa da moda. O público da periferia não é de freqüentar essas casas. Para encher casas são trazidos os grupos de São Paulo. Temos que investir mais no nosso trabalho para ter sempre local”, lamenta.

A valorização da cultura local e o desejo de consolidar o trabalho no Estado de origem, está na atitude dos grupos. Até o final de 2006, o APR lança um cd chamado “Produção Caseira”. O nome do cd nasceu da opção do grupo de não sair de Minas Gerais para gravar em estúdios de alta qualidade em São Paulo ou no Rio. Russo afirma que não há como viver de rap em Belo Horizonte e que o seu trabalho dentro do Hip Hop não se relaciona somente com a música: “Dou oficinas, faço seminários, discutindo políticas públicas para a juventude para estimular os jovens a serem protagonistas de seus próprios interesses, ajudando a conscientizar e informar”.

O grupo Atitude Mulher, apesar de novo, criado em maio deste ano, ganha cada vez mais espaço discutindo a superação do racismo, do machismo e militando pela emancipação feminina. A diversidade cultural expressa no trabalho do Atitude de Mulher tem resultado em muitas conquistas e agendas para shows. “Estamos participando de grandes festivais como Conexão Telemig Celular, FAN, Hip Hop In Concert, Sons e Tons, na Lagoa do Nado e do Projeto Praça Sempre Viva, que organizamos em junho deste ano, no Bairro São Mateus, em Contagem. Temos sentido uma receptividade muito positiva de público e espaços, mas ainda há uma certa resistência da sociedade àquilo que é novo” avalia Poliane, membro do grupo.

Grupos de Belo Horizonte , apresentações e propostas

Além de invadir a cena artística, o rap também ocupa um espaço social. A maior parte dos grupos não se atém apenas as apresentações musicais, mas realiza oficinas e debate os temas mais variados. A experiência do Artilharia Pesada da Rima é um exemplo. “Mesmo com a falta de estúdio, de apoio da mídia convencional, estamos ocupando espaços. Hoje temos as oficinas do Programa Escola Aberta, Fica Vivo, Pro-Jovem e a tendência é o rap abrir muito e evoluir. É uma política pública que já vem sendo buscada há seis anos, com os grupos culturais que colocaram essa questão em primeiro plano. Não somente privilegiando o Hip Hop, mas também os eventos nas comunidades, as discussões políticas, sobre sexualidade, gênero e redução de danos trazidas pelo Coletivo Hip Hop Chama. O Estado está vendo o interesse dos jovens que compõem o Hip Hop Mineiro. O Hip Hop In Concert foi uma conquista nossa. As discussões e debates que vemos partindo da cultura Hip Hop em Belo Horizonte não ocorre em nenhum outro lugar do Brasil”, conta Russo, do APR.

O mesmo ocorre com o NUC, responsável por grupo cultural de mesmo nome que oferece oficinas de artes no Alto Vera Cruz e também forma outros jovens na cultura Hip Hop, através do Programa Fica Vivo. A discussão proposta pelo grupo abrange temas sociais vividos nas grandes metrópoles, combatendo o preconceito racial, defendendo a cidadania e os direitos humanos.

O gênero é outro tema de discussão no rap. Um dos principais exemplos é o Atitude Mulher, as integrantes do grupo se reuniram e constituíram uma proposta inovadora, tanto pela discussão de gênero, quanto pela junção dos quatro elementos do Hip Hop no palco, com MC, Bboy, Graffiteira e DJ, todas mulheres.

O grupo Nossart traz, assim como os outros grupos, o quinto elemento: o conhecimento, assim definido por Afrika Bambaata, nomeador da cultura Hip Hop. “O Nossart trabalha vários temas entre eles DST’s, informando sobre prevenção, sobre a não-discriminação a portadores do HIV, sobre a importância da preservação da água, buscamos transmitir mensagens positivas de fé em Deus, apesar do Nossart não ser um grupo gospel. Procuramos desencorajar os jovens a se envolver com o crime nas nossas letras”, explica Edy, um dos integrantes do grupo. Outro tema inédito em letras de rap será desenvolvido pelo Nossart: as relações trabalhistas numa sociedade em que muitos direitos dos cidadãos não são respeitados.

Além das discussões diferenciadas, vale destacar as parcerias que ajudam a compor o quadro peculiar do rap em Minas. O NUC se destaca por ter com conseguido criar o Projeto Primeiro Passo, agregando cantiga de roda, capoeira, samba e percussão, com a participação dos Grupos Meninas de Sinhá, Capoeirarte Brasil e Senzala. O S.O.S Periferia, na mesma linha, desenvolve trabalho com Arautos do Gueto e Marku Ribas

FONTES:
Grupos de Rap
Dj Francis – Negros da Unidade Consciente – NUC
Tel: 3468-2245 / 9606-6612
E-mail: [email protected]

Poliane – Atitude de Mulher
Tel: 3912-7096 / 9261-0266

Edy – Nossart
Tel: 3381-6985 / 8846-2514
E-mail: [email protected]

Russo – Artilharia Pesada da Rima – APR
Tel: 3598-5773 / 8855-8395