Dez anos de Arautos do Gueto

Mudança através da arte. Esta é a crença do grupo Arautos do Gueto, que completa dez anos de atuação artística e social com resultados positivos dentro e fora da comunidade

O grupo cultural Arautos do Gueto completa, em agosto, dez anos de existência. Fundado e com sede no Morro das Pedras, na região oeste de Belo Horizonte, o grupo conta, atualmente, com 120 integrantes, três sub-grupos formados: Banda Arautos do Gueto, U-Gueto, Bloco Arautos do Gueto; e dois em formação: o Núcleo de Dança e a Oficina de Percussão. A Banda Arautos do Gueto é formada pelos fundadores e atuais gestores do projeto. A Banda infanto-juvenil U-Gueto tem integrantes com idade entre três e treze anos. Já o Bloco Arautos é composto por crianças, jovens e adultos do Morro das Pedras e de outras comunidades.
O Arautos do Gueto nasceu de uma outra formação musical da comunidade, Swing do Cais, da qual os fundadores do Arautos participavam. “A idéia inicial era apenas formar uma banda nos moldes das influências baianas da época, tipo Olodum, Timbalada”, diz Victor Magalhães, produtor executivo do grupo. Com o passar do tempo, os objetivos mudaram muito, “a música despertou nos fundadores a questão da cultura local, a carência de atividades que envolviam crianças na época“, conta o produtor.
Foi a partir dessa mudança de percepção que o grupo se voltou para ações que mudassem a realidade local. “Primeiro tínhamos que conquistar a comunidade, então começamos a investir em atividades que chamassem a atenção. As oficinas de percussão eram nas ruas, contando com a compreensão de algumas pessoas e esbarrando na desconfiança de outras!”, lembra.
Uma das maiores conquistas, de acordo com o produtor do grupo, é que “o Arautos consegue, hoje, dar uma cara nova ao Morro das Pedras, com pequenos eventos realizados na rua, geramos renda para os comerciantes locais”. Além de contribuir para a socialização no interior da comunidade, a ação do Arautos também contribui para a visibilidade cultural e artística do Morro das Pedras. “Hoje você não vê falar do Morro das Pedras só nas páginas policiais”, ressalta orgulhoso, Inácio, um dos fundadores do grupo. “A maior conquista do Arautos é mostrar o outro lado do Morro das Pedras. Mostrar que não só daqui, mas de qualquer comunidade de periferia podem sair bons artistas e pessoas que conseguem formar suas vidas da forma digna”, afirma.
O trabalho do grupo apontou novos caminhos para alguns de seus membros, como é o caso da ex vocalista, Fabiola Agda, que passou pelo Afroreggae e hoje atua com o Arautos novamente. O ex-coordenador de percussão, Geraldo Bernado, atualmente mora em Alagoas, onde é coordenador Musical da ONG ERÊ.
Hoje, a principal dificuldade do grupo é em relação a verbas para manter o trabalho e as iniciativas. “Temos vários projetos arquivados por falta de recursos, projetos que beneficiariam pelo menos mais 80 pessoas, em várias áreas, inclusive a de geração de renda”. A entidade se mantêm através dos recursos da Lei Estadual de Incentivo a Cultura, com o patrocínio da Telemig Celular, e integra a Rede TC de Arte e Cidadania. Entre os parceiros, estão a Duo Informação e Cultura, Fixar Comunicação Visual, Agentz Produções e a ONG Favela é Isso Aí.
Daqui pra frente, os objetivos são garantir a auto sustentabilidade, gerar renda para o grupo e manter a Biblioteca Comunitária, oficina da melhor idade, núcleo digital e a bolsa institucional.
O grupo ainda não tem CD gravado, mas as músicas do grupo, podem ser ouvidas no www.arautosdogueto.org.br. Neste mesmo site estão disponíveis depoimentos de membros do grupo, fotos dos integrantes, histórico de apresentações, agenda e informações sobre oficinas.

BATE BOLA: FAVELA É ISSO AÍ X VICTOR MAGALHÃES
O Favela manda uma palavra ou expressão e o Arautos manda uma frase
Favela: Arautos
Vitor: Ponte entre a periferia e o asfalto, unindo, mostrando que somos todos iguais e formando seres humanos no campo da arte e cultura.
Favela: Morro das Pedras
Vitor: Raiz de onde não abriremos mão do nosso trabalho comunitário!
Favela: Arte e Mudança
A mudança vem com arte. Pode-se enxergar arte nas coisas simples. É o que percebemos, quando no desenho de uma aluna de cinco anos, falando da sua comunidade, ela vê a realidade alterada pra melhor.

Contato: (31) 3334-0117 / 9942-3590 – Victor Magalhães