Carnaval na capital mineira

O carnaval belo-horizontino deste ano contou com a participação de nove escolas de samba e nove blocos caricatos, além de outros grupos e eventos apoiados pela PBH. A agremiação campeã foi a Acadêmicos de Venda Nova e o título entre os blocos caricatos ficou com os Bacharéis do Samba. Os desfiles aconteceram no dia 3 e 4 de fevereiro na via 240, região Norte da capital mineira. Cada escola devia desfilar com no mínimo 250 componentes, conforme o regulamento, mas este número foi ultrapassado por todas as escolas que desfilaram. A campeã, por exemplo, entrou na avenida com 400 integrantes. A Belotur foi a responsável pela infraestrutura do local e montagem de arquibancadas para o público.

“O carnaval deste ano foi um dos melhores carnavais de todos os tempos. Tivemos a melhor estrutura, que contou com arquibancadas cobertas, iluminação excelente, segurança, e o melhor som”, informou o diretor de eventos da Belotur, Tadeu Martins. Ele foi um dos cinco integrantes da Comissão de Organização do Carnaval (COC-2008). Também compuseram a Comissão o vice-prefeito, Ronaldo Vasconcellos; o secretário municipal adjunto de Governo, Ricardo Pires; o procurador-geral adjunto, Mário Casaverde; e o secretário-adjunto da assessoria de Comunicação Social, Carlos Alberto dos Santos. Segundo o diretor da Belotu, o bom resultado do carnaval deste ano se deveu à organização da Prefeitura, à organização das instituições carnavalescas e à infraestrutura. O público nos 35 eventos apoiados pela PBH ultrapassou 266 mil pessoas.

As dificuldades e opiniões sobre o carnaval

A capital mineira é conhecida nacionalmente pelo complexo da Pampulha, pelo Clube da Esquina e pelos inúmeros bares e restaurantes. Mas Belo Horizonte também quer ser reconhecida pelo seu carnaval. Pelo menos é o que pretende o diretor de eventos da Belotur. Para ele, falar que a cidade não tem carnaval e que os belo-horizontinos não gostam da festa trata-se de balela. Esta é a mesma opinião do Sr. Roberto Neves, que durante muitos anos foi um dos organizadores do carnaval da escola de samba Canto da Alvorada. “O belo-horizontino adora carnaval”, disse. Hoje ele é responsável por uma das 75 alas da tradicional escola carioca Salgueiro.

Ambos concordam também que a imprensa, de maneira geral, contribuiu para esta visão negativa de que a cidade não tem carnaval. “Da administração municipal de Pimenta da Veiga até meados da administração de Patrus Ananias as escolas não iam para a avenida, porque a Prefeitura resolveu investir em outras formas de carnaval, como as bandas, os bailes e os blocos. A imprensa então noticiava que a cidade não teria carnaval”, explica o diretor da Belotur.

Contudo, o Sr. Roberto aponta que a falta de infraestrutura para as escolas, como espaço para o desfile e quadras para os ensaios, ao lado da falta de apoio e incentivo financeiro, são os grandes empecilhos para a realização da festa de momo na cidade. Outra reclamação dele é a decisão de manter o carnaval na via 240. “É mais fácil levar a periferia para o centro do que fazer o contrário”. O diretor da Belotur disse que o local para o carnaval realmente é um divisor de opiniões. “Muitos são a favor de que o desfile seja realizado na Av. Afonso Pena, como era antigamente. Outros entendem que o carnaval encontrou seu lugar na via 240. Há alguns ainda que acreditam que o Boulevard Arrudas é o local ideal”.

Para Marco Aurélio, responsável pela escola campeã deste ano, a Acadêmicos de Venda Nova, a existência de um palco fixo para os desfiles acaba com um temor existente entre os carnavalescos de não haver carnaval. “Quando uma estrutura toda tem que ser contratada e montada para receber o evento, fica cada vez mais nas mãos do poder público a sua realização. Penso que a existência de um espaço próprio para tal manifestação criaria um novo pólo cultural na cidade”, disse.

Quanto à falta de espaços para as agremiações, Tadeu Martins disse que muitas delas já tiveram terrenos cedidos pela Prefeitura, que entretanto foram retomados por falta de utilização efetiva. “Foi constatado que esses terrenos não eram utilizados e o prefeito, na época Pimenta da Veiga, retomou esses terrenos” explicou Tadeu.

Mas nem tudo são críticas… a presidente do bloco caricato Aflitos do Anchieta, Sônia Pereira, elogiou o sistema de segurança montado pela Polícia Militar. “Antigamente havia arrastões na área central da cidade. Lá na via 240 a segurança foi um ponto positivo”, disse. Ela se diz desanimada com a ausência de patrocínio por parte da iniciativa privada e a falta de lojas especializadas em materiais típicos do carnaval.

O surgimento do carnaval e o ano de 2009

Em relação à tradição da cidade no carnaval, não há divergências entre a Prefeitura, as agremiações e suas respectivas comunidades. O carnaval em Belo Horizonte começou antes mesmo da inauguração da cidade. As primeiras manifestações carnavalescas foram os corsos, ou carroças fantasiadas. Em meados de 1897, operários de cidades próximas a BH, que trabalhavam na construção da cidade, fantasiaram as carroças e desfilaram pelas ruas da futura capital. Em 1899, surgiram as bandas carnavalescas, com destaque para a primeira – Diabos de Luneta. As bandas eram formadas por músicos, que, atraídos pelo desfile das carroças, passaram a compor a festa. Da união dos corsos com as bandas apareceram os bailes populares. Mais tarde, surgiram os blocos caricatos: pessoas com rostos pintados que tocavam tambores em cima dos carros de desfile. Finalmente, na década de 50, graças ao sucesso do carnaval do Rio de Janeiro, despontaram na capital mineira as escolas de samba.

Quanto ao carnaval de 2009, o diretor da Belotur acredita que será melhor que em 2008. “Ninguém aceita voltar atrás. Belo Horizonte tem e terá um grande carnaval. Ano que vem pode ser ainda maior. O que depende é um azeitamento entre o poder público, a iniciativa privada e as agremiações”.

A comunidade participando

A escola campeã de Belo Horizonte no carnaval de 2008, segundo o responsável pela organização, Marco Aurélio, conta com total participação da comunidade. “Na Acadêmicos de Venda Nova contamos com a participação direta dos seus integrantes na realização dos seus eventos, confecção das fantasias, adereços e alegorias”. A Belotur também valoriza o envolvimento das comunidades no carnaval. “Um bom exemplo é o bloco do bairro Mantiqueira, que conta com grande participação popular. O próprio carnaval é uma festa popular. E esta festa conta com o apoio da Prefeitura”, afirma Tadeu Martins. Para ele o interesse da PBH é apoiar toda comunidade que queira participar do carnaval belo-horizontino.

As comunidades de vilas e favelas também têm um carnaval próprio. A idéia de unir o morro com o asfalto surgiu numa conversa entre dois moradores da comunidade do Aglomerado Santa Lúcia, zona sul da capital. Segundo o responsável pelo projeto, Cristiano Silva, também conhecido como Cris do Morro, o projeto Carnafavela conta com o apoio tanto do poder público quanto da iniciativa privada. “A proposta é dar um suporte ao carnaval de BH e também ser uma alternativa turística da cidade”, disse. Hoje, o Carnafavela faz parte da agenda oficial do carnaval de Belo Horizonte e neste ano levou 55 mil foliões às ruas. O evento recebeu, segundo Tadeu Martins, R$ 60 mil como apoio da Prefeitura, neste ano de 2008. “Isso mostra que há interesse da PBH em atender, promover e apoiar estas manifestações nas comunidades”, completa o diretor.

Povo fala

“Confesso que conheço pouco o trabalho das comunidades no carnaval, mas, por exemplo, temos o pessoal de Venda Nova, que se não me engano, são os atuais campeões. Acredito que ali, houve toda uma conscientização e movimentação da comunidade.” Helder Matias, 22 anos, estudante de jornalismo.

“Não. Acredito que em BH o carnaval seja mascarado. Quem organiza é a Prefeitura e eu não tenho conhecimento de comunidades se movimentando por algo relacionado ao carnaval. A maioria das pessoas que conheço utilizam o feriado de carnaval para descansar.” Gislaine Alves, 21 anos, estudante de psicologia.

“Eu acredito, pois vejo sempre manifestações de pessoas que defendem o carnaval na cidade. O povo do Santa Tereza e do Santa Lúcia, sempre escuto algo relativo ao carnaval que esses bairros promovem.” Ruth Madeira, 75 anos, aposentada.

Fontes para consulta

Tadeu Martins (Diretor de eventos da Belotur) – 3277 9704
Cristiano da Silva – 8426 4451
[email protected]
Paulo Mutum (Carnafavela) – 9642 6318
Roberto Neves (ex-Canto da Alvorada e atualmente no Salgueiro) – 3224 7670
Marco Aurélio (Acadêmicos de Venda Nova) – 9692 7105
[email protected]
Sônia Pereira (Aflitos do Anchieta) – 3225 6371 e 9656 9592
[email protected]

Foto: Acadêmicos de Venda Nova. Gentilmente cedida pela Belotur. Fotógrafo: Robson Vasconcelos.