Catálogo de artesanato e livro de receitas são mais dois volumes de "Prosa e Poesia no Morro"

“Cultura pode ser entendida como um conjunto de características distintas: espirituais, materiais, intelectuais e afetivas que caracterizam uma sociedade ou um grupo social. Abarca, além das artes e das letras, os modos de vida, os sistemas de valores, as tradições e as crenças”, é a definição da UNESCO. Partindo desse conceito, as receitas e o artesanato produzido nas vilas e favelas representam, além de uma possível alternativa para geração de renda, o modo de vida das pessoas. As receitas criadas nas comunidades carregam tradição e muitas histórias. O artesanato, por exemplo, é um exercício de auto-estima e uma forma de explorar os potenciais criativos.

Receitas

Através da pesquisa publicada no Guia Cultural de Vilas e Favelas, por incrível que pareça, foi possível perceber a importância do ato cozinhar. Pessoas que se destacavam por serem bons cozinheiros sempre eram citadas pelos artistas das outras áreas. O mapeamento que começou no Guia continua na publicação que será lançada da Coleção "Prosa e Poesia no Morro". O livro foi dividido em capítulos temáticos: bolos, salgados, carnes, pães, massas, salgados, petiscos, caldos, entre outros. E ainda tem mais três capítulos especiais, dos grupos parceiros: Causa e Semear, que reúne moradores do Alto Vera Cruz, Taquaril e Granja de Freitas e As Doninhas da Vila Presidente Vargas. A coleta das receitas também foi realizada nas vilas São João Batista, no Taquaril, no Alto Vera Cruz, Santa Rita e na Barragem Santa Lúcia.

Grupo que participa do livro é responsável por Coquetel de Lançamento

O Grupo Causa, que se destaca por utilizar alimentos naturais além de criar suas próprias receitas, será responsável pelo coquetel de lançamento da coleção. Entre suas criações se destacam algumas como o bolo de couve, o pão de milho verde e o suco de pimentão. O grupo foi criado com o objetivo de passar conhecimento através de oficinas e pretende no futuro lançar o seu próprio livro.

Para Clarice Libânio coordenadora da Ong Favela é Isso Aí, “o livro não é apenas um manual de instruções de como fazer, mas é também um roteiro cultural, cheio de pistas de modos de vida, de histórias universais e particulares, cheio das marcas daquelas mulheres que alimentam gerações da nossa cidade, como mães, esposas, empregadas, cozinheiras…” Toda receita do livro é acompanhada da história de como cada um aprendeu.

Artesanato: a segunda maior manifestação artística nas vilas e favelas

Para o livro “Mostra de Artesanato” foram selecionados doze trabalhos desenvolvidos por grupos, artesãos-solo e cooperativas. Para elaboração foram realizadas entrevistas com artistas, após a constatação de que o artesanato representava grande parte da arte produzida nas vilas e favelas da capital, ficando atrás apenas da música. Segundo Clarice, “esse livro tem a pretensão de ser um catálogo, uma mostra do que se produz hoje nas comunidades de Belo Horizonte em termos de artes manuais”.

Para a jornalista Ana Luísa Santos, que participou da organização do livro e da seleção dos artistas “a atenção que o artesanato desperta nasce de modos de produção manuais, processos criativos intuitivos e relacionais, autênticos, espontâneos, que conferem o caráter de exclusividade a cada peça única, a cada história de vida, a cada ponto de vista e identidade”.

As associações estão representadas no livro pelos grupos “Agulha Ativa”, “Boas Mãos”, “Gamet” e “Meninas do Cafezal”. A produção inclui trabalhos manuais como fuxico, tricô, crochê, bordados, artigos de cama e mesa, bolsa, roupas e objetos de decoração.

No grupo de artesãos-solo, o catálogo enfoca cinco artistas que trabalham de maneira autônoma: Robson Costa, Nelsinho, Gil de Souza, Tico e Allan dos Santos Ferreira. O reaproveitamento de matérias é uma das principais características dos trabalhos desses artistas. A pesquisa constatou ainda que ao contrário das mulheres, a maioria não trabalha fora, no grupo dos homens a maior parte exerce outra atividade profissional.

O catálogo mostra também o trabalho das cooperativas COONARTE – Cooperativa de Confecção e Associação Parque das Águas e da COOPES – Cooperativa dos Educadores Sociais. O grupo Ciclo XXI do conjunto Mariano de Abreu representam a nova geração de artesãos.

As artesãs do “Boas Mãos”, do Granja de Freitas, são as responsáveis pelos broches que vão identificar a Equipe Favela é Isso Aí no dia do lançamento.

Sugestão de Fonte:

Clarice Libânio: 3282-3816

*Fotografia de Pedro David