Militância Juvenil – dos anos 60 aos anos 2000

A juventude sempre marcou presença nas grandes transformações vivenciadas pela humanidade. Hoje, no Brasil, segundo dados da ONU, 50% da população total do país é composta por jovens. Desse percentual, uma parcela, que ainda não foi medida, se envolve em atividades culturais e políticas, contrariando a idéia de apatia dos jovens.
Nos anos 60, tivemos uma das maiores representações da organização juvenil, onde a cena política, cultural e educacional sofreu uma grande influência das reivindicações e construções da juventude. Essa década foi marcada pelo início de ditaduras militares em vários países, principalmente na América Latina. No Brasil, a cena política não fugiu a regra da militarização, em 1964 é anunciado o “Regime Militar”. A censura e os Atos Institucionais inflamaram os movimentos sociais a criarem alianças entre si para resistir à implementação daquele novo modelo de governo.
A turbulência política desse período foi um dos principais motivos para a organização juvenil, principalmente a estudantil. “Na década de 60 nosso  inimigo era concreto, lutava-mos cotidianamente contra a ditadura, contra a polícia, contra o Estado repressor”, afirma Luiza Lafetá, presidente da UEE- União Estadual de Estudantes de Minas Gerais.  
Atualmente, vivendo em um outro contexto, as formas de participação da juventude foram ampliadas, assim como o discurso de seus representantes. “Hoje o movimento estudantil tem inimigos cruéis, mas com outra feição, lutamos contra a mídia, que aliena e submete nossos jovens, lutamos contra a desmobilização, lutamos contra a precarização do estado”, afirma Lafetá.
Na década de 70, o clima na cena política do Brasil era mais explosivo. A instituição do Ato Institucional 5 (o famoso AI5) obriga vários grupos juvenis a clandestinidade e a militância armada. Várias expressões da cultura urbana jovem são proibidas e artistas são exilados. O jovem passa a reinvidicar além da abertura política o fim da censura. Os movimentos pela livre expressão, se tornam ícones da juventude brasileira.
O processo de abertura política já havia começado em 1979, mas até 1984 não havia caminhado muito. Cansado desse marasmo da transição de modelo político o jovem brasileiro, lutando há quase 20 anos contra a repressão militar vai às ruas de diversas capitais do país pedindo pelas “Diretas Já”. Logo em seguida a juventude volta às ruas, em 1992, com as caras pintadas, um sinônimo de revolta.
Século XXI
A década atual é marcada por diversos escândalos políticos, e por uma aparente apatia da juventude. Para o cientista político, Alvino Carvalho, é preciso, no mínimo, problematizar essa apatia. “O rosto do jovem mudou as causas e as estratégias de luta também são outras”, avalia.
Atualmente, com nova roupagem e novas preocupações a juventude não se privou das lutas e conquistou espaços que pareciam inalcançáveis. “A juventude ganhou mais espaços institucionais, principalmente a partir de sua inclusão na agenda política do país, com a criação das secretarias estaduais e nacionais da juventude, junto aos conselhos municipais”, explica Adriano Guerra, membro da Frente de Defesa dos Diretos da Criança e do Adolescente e coordenador da Rede Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância de Minas Gerais).  
A Juventude, hoje, milita por causas diversas. “Não existe uma juventude, mas juventudes, no plural”, analisa Guerra. Apesar da abertura política, conquistada pela juventude, a sociedade ainda cobra participação do segmento, mas em contra partida, segundo Adriano Guerra, falta também respeito com a voz do jovem.  “Nos conselhos de juventude, por exemplo, muitas vezes, os espaços de participação não são legítimos, as instituições não reconhecem o jovem como indivíduo, é preciso mais abertura nessas instituições, na família, para a fala do jovem”.
Considerando o fato de que nessa década, a juventude é constantemente comparada com a dos anos anteriores, Alvino Carvalho faz uma avaliação: “no geral, não se pode dizer quer as causas da militância juvenil dos anos 60 são melhores ou maiores, mais nobres, as necessidades hoje são outras”. “Os movimentos juvenis estão mais setoriais, Hip Hop, movimento negro, grupos de jovens ligados a projetos de ONG’s”, avalia Adriano Guerra.
 
Em 2007, quando estava desenvolvendo sua tese de mestrado “Movimentos Culturais e Justiça Social: Um Estudo da CulturaHip-Hop Mineira”, pela UFMG, Alvino conheceu o grupo D-vEr.CidaDe CuLturaL, de Belo Horizonte. “O grupo me proporcionou a experiência de muitas linguagens no mesmo espaço, o que contribui para romper barreiras, sair do gueto”.
D-vEr.CidaDe CuLturaL
O grupo D-vEr.CidaDe CuLturaL, formado por jovens da periferia de Belo Horizonte e região metropolitana, começou a atuar em 2003, a partir de uma formação, oferecida pelo Observatório da Juventude da UFMG, coordenado pelo professor Juarez Dayrell. O curso foi proferido para 36 pessoas de 17 comunidades, os quais integravam 16 grupos diferentes. A primeira ação efetiva do grupo D-vEr.CidaDe CuLturaL foi a realização do 1° Seminário de Políticas Públicas da Juventude, em 2004. O grupo apóia o desenvolvimento de projetos individuais e de seus integrantes. Segundo Roberto Raimundo, o nome D-vEr.CidaDe CuLturaL, surge como um trocadilho que envolve três sentidos inicialmente “o da diversidade cultural, o ver a cidade culturalmente e a da própria  diversidade do grupo”.
Ainda segundo seus integrantes, o grupo é organizado em prol do coletivo e tem concepção diferente das ONG’s, adota a postura de grupo. Uma das grandes preocupações do grupo é fazer acontecer á arte e o protagonismo juvenil. “Faz a cultura e a arte acontecer, aliás, essa é a essência do grupo”, diz Roberto Raimundo. Hoje, o D-vEr.CidaDe reúne jovens que militam por causas variadas entre elas a juventude negra, o movimento Hip Hop, mídia independente, o direito a livre orientação sexual, políticas públicas para juventude (tema que perpassa todos os outros), acesso a produção de arte e cultura, abertura de espaço para artistas das vilas e favelas, etc.
 
O Movimento Estudantil atual
Na perspectiva do movimento estudantil, Luiza Lafetá, faz uma comparação entre as causas de hoje e as causas anteriores. “Hoje podemos dizer que a UNE consegue pautar as mudanças no rumo da educação do país como nunca antes”, segundo ela porque há um diálogo com o governo.
 
SUGESTÕES DE FONTE
Alvino Carvalho – Cientista Político
Contato: [email protected]
Roberto Raimundo – Coordenador do grupo D-vEr.CidaDe CuLturaL
Contato: (31) 3429-1089
Luiza Lafetá – Presidente UEE- União Estadual de Estudantes de Minas Gerais
Contato: (31) 8682-9625
Adriano Guerra – Rede Andi – Secretário Executivo Oficina de Imagens. Frente de Defesa da Criança de Adolescente de Minas Gerais.
 Contato: (31) 3482-0217
* Matéria de Cristiano Silva (estudante de comunicação), como colaborador, a partir de sugestão e sob coordenação e supervisão da jornalista Edilene Lopes.